Turismo Regenerativo: Boas Práticas e Boa Viagem
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Tempo de leitura 4 min
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Na hora de escolher seu próximo destino, considere incluir ética e responsabilidade na sua bagagem.
Poucos conceitos são tão elásticos quanto o de "viajar". O verbo já foi usado para empreender grandes conquistas, serviu à ciência e à religião, a aventureiros e desbravadores, reis e rainhas, e até a pessoas comuns em busca de descanso ou lazer. Cabe quase tudo dentro de uma viagem.
O que está ficando de fora dela é o seu uso para um turismo fútil ou predatório: cada vez mais gente está interessada em viver uma jornada que se conecte com propósitos, experiências genuínas e evolução pessoal.
Com o avanço das ideias de sustentabilidade aplicadas às viagens, o que era "ecoturismo" (nas décadas de 1980 e 1990) ou "turismo sustentável" (até bem pouco tempo atrás) se transformou em turismo regenerativo, expandindo as fronteiras das boas práticas para além dos limites dos hotéis, parques e cidades visitadas.
Agora -- e antes tarde do que nunca -- uma boa parte desta responsabilidade deixa de ser só de quem recebe para ser compartilhada com o próprio viajante.
Este turista consciente do impacto que suas escolhas exercem por onde ele passa (estabelecimentos, comunidades, bosques, cidades, praias e montanhas) ganhou até um nome: progressive nomad, ou simplesmente Promad. Além de sugerir práticas alinhadas com as melhores condutas, o termo pretende definir o perfil daqueles turistas dispostos a firmar um pacto bem-sucedido entre os que promovem e os que desfrutam das experiências regenerativas, a tal ponto que esses papéis se tornam um só: o de preservar todo tipo de vida na Terra.
A jornalista brasileira especializada em turismo Mari Campos acompanha há 17 anos as mudanças do mercado e viu quase todos os seus segmentos, em alguma medida, assumirem gradativamente um discurso mais engajado, antes da pandemia alterar definitivamente a forma como viajamos. Difícil saber quem puxou o bonde da regeneração: se hotéis e operadoras de luxo vanguardistas, ou se condutas individuais de turistas mais conscientes.
De todo modo, essa relação pode ter gerado bem mais do que novos padrões de sustentabilidade a serem seguidos por pousadas mundo afora. "O turismo regenerativo não é um produto, mas sim a postura dos próprios turistas em suas viagens e a manutenção de uma cadeia realmente sustentável a curto, médio e longo prazo por todos os players da indústria turística", define Mari.
Identifique sua motivação
Reflita sobre as verdadeiras motivações pelas quais você se mobiliza para viajar. Descansar, praticar esportes, explorar outros universos, passar tempo de qualidade com sua família, ficar sozinho, ter a oportunidade de conhecer outras pessoas... Pensar sobre o que desperta em você o desejo real de empreender uma viagem é fundamental para iniciar uma sequência de escolhas acertadas e conscientes.
A jornada é o destino
Sua próxima viagem não é o lugar para onde você vai e sim aonde este lugar pode te levar. Ao definir seu destino a partir das experiências que você espera viver, fantasias e estereótipos que costumam envolver destinos famosos dão lugar a um caminho mais autêntico e pessoal, onde quer que você decida estar.
Seja criterioso
Quando chegar a hora de planejar seu roteiro e escolher destinos, acomodações e passeios, fique com empresas e prestadores de serviço comprometidos com padrões responsáveis em toda a sua cadeia de atuação. Existem diversas certificações internacionalmente reconhecidas para que você tenha segurança de que está contratando empresas e pessoas que geram impacto positivo para o meio ambiente e as comunidades locais. A Green Destinations, por exemplo, elege anualmente, há sete anos, os 100 destinos do mundo com as melhores iniciativas em categorias que vão de incentivo ao empreendedorismo local ao uso de energias renováveis ou tratamento de esgoto. A lista de 2020 traz opções de municípios, ilhas e áreas protegidas que estão usando o turismo como ferramenta de regeneração.
Faça deslocamentos mais conscientes
O setor de transporte aéreo é responsável por uma parte significativa de emissão de poluentes no mundo e representa 51% dos deslocamentos turísticos. Há alguns anos, companhias aéreas de todo o mundo têm estabelecido metas para substituição do querosene por biocombustíveis e algumas delas já estão voando de forma quase 100% limpa. Leve em consideração viagens que não precisem de trechos aéreos e procure pensar no seu roteiro de forma a minimizar deslocamentos. Sempre que possível, prefira trem ou veículos não poluentes. Existe uma infinidade de roteiros incríveis para conhecer países do mundo inteiro sobre duas rodas. Se tiver que voar, dê preferência a trechos mais curtos, operados por empresas "verdes", ou que façam algum tipo de compensação de carbono.
Local é o canal
Viajar é a melhor oportunidade para estimular a curiosidade, deixar-se levar, abrir-se para o novo. E as descobertas mais autênticas e representativas estão no comércio local, na comunidade, nas áreas públicas, nos restaurantes que valorizam a culinária e ingredientes típicos. Além de ser mais enriquecedor, preferir produtos, pessoas e estabelecimentos assim é a melhor maneira de estimular a economia e retribuir a experiência que o turismo proporciona.
Busque referências
Pesquise sobre iniciativas bem-sucedidas que combinam destino, conforto, atendimento, inclusão social, preservação cultural e do meio ambiente. Expert no assunto, a jornalista Mari Campos tem boas recomendações: "Tanto os lodges da Great Plains Conservation quanto os da Porini Campos são excelentes exemplos de turismo regenerativo, tanto do ponto de vista da conservação e preservação quanto do ambiental e cultural, sem deixar de cuidar das comunidades que os rodeiam e de demais aspectos econômicos e sociais dos destinos nos quais estão inseridos. Ainda que com outro modus operandi, os resorts da rede Soneva também vêm fazendo excelente trabalho regenerativo nas Maldivas e na Tailândia. No Brasil, Anavilhanas Jungle Lodge, Cristalino Lodge e Refúgio Caiman são três excelentes demonstrações de hotelaria trabalhando realmente em prol do turismo regenerativo". Outras referências interessantes são o Fogo Island Inn, no Canadá, e o Kachi Lodge, na Bolívia.
Melhor do que antes
Em algumas trilhas da Nova Zelândia, há placas que convidam os caminhantes a deixar o local melhor do que o encontraram. Essa lógica pode e deve ser aplicada a todas as viagens: se você visita um local e de lá traz memórias, experiências e presentes, que tal deixar também ali um rastro positivo? Contribua para adicionar mais do que extrair das comunidades, lugares e relações. Pode ser recolhendo um papel indesejado no chão, oferecendo ajuda física a alguém, participando de forma construtiva de algum momento daquela comunidade.