Como começar um Banco de Tempo
|
|
Tempo de leitura 3 min
|
|
Tempo de leitura 3 min
Quando alçou a frase "tempo é dinheiro" à condição de máxima, no século 18, Benjamin Franklin estava alinhado às ideias inauguradas pela Revolução Industrial. Ser produtivo ao máximo, dedicando boa parte do dia ao trabalho, era chave para o crescimento da economia e a prosperidade dos cidadãos.
O tempo, ativo primordial da existência, foi desde então consumido pela lógica do capital e aparentemente acelerou o modo de vida de toda a humanidade, especialmente nos grandes centros urbanos, onde as trocas interpessoais, o ócio e o lazer passaram a ser vistos como privilégios de poucos.
O tempo é curto e com o que sobra dele ainda é preciso fazer mágica e transformar fragmentos de horas em "tempo de qualidade".
Na contramão deste pensamento e por uma relação mais produtiva e interessante com o trabalho, muitas comunidades em todo o planeta têm promovido experiências locais bem-sucedidas otimizando jornadas diárias de um jeito democrático, solidário, humano e simples:
Trocando serviços, talentos e produtos a partir dos Bancos de Tempo, que intermediam demandas de seus membros, ligando as necessidades de uma pessoa às competências de outra.
A troca acontece por hora e não por dinheiro: uma hora de babysitting por uma hora de consultoria sobre um determinado assunto. Ou uma hora de aula de inglês por uma hora de faxina. Desta forma, todas as competências têm o mesmo valor, e serviços e produtos que não estariam ao alcance de muita gente se tornam acessíveis graças às habilidades pessoais que todos temos.
Há também um excedente de horas que costuma ser revertido para ações sociais. Cada novo membro que ingressa num Banco de Tempo recebe 4 horas para trocar e gera outras 6 para este fundo solidário, que vai remunerar (em horas) aqueles que se interessarem por atuar em projetos parceiros do Banco.
Primeiro Banco de Tempo do mundo, criado por outro norte-americano, Edgar Cahn, o TimeBanks é uma organização que hoje conta com milhares de unidades espalhadas pelo mundo, presentes em países como Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Senegal, Argentina, Grécia, Espanha e França, além das centenas existentes em todos os estados norte-americanos.
Mas as ideias de Cahn ganharam adeptos independentes, que criaram seus próprios Bancos e promoveram mudanças significativas em suas localidades. No Brasil, o Banco de Tempo Florianópolis foi pioneiro, mas já existem outros em ao menos 25 cidades, com bons exemplos em Campinas e Brasília.
Procure saber se já existe algum Banco de Tempo perto de você ou na sua cidade. Caso já exista, você pode apenas se tornar membro de um Banco que já está funcionando. Caso deseje criar um, informe-se lendo sobre o assunto e pesquisando experiências de quem já fez isso antes. Utilize sites, páginas de Bancos de Tempo nas redes sociais e o site do TimeBanks para obter informações, documentos e guias. Familiarize-se com os cinco valores principais criados por Edgar Cahn e registrados em seu livro No More Throw-Away People.
Defina o propósito do Banco de Tempo que você quer criar. Pense no tipo de impacto que você gostaria de atingir e comece a idealizar o seu Banco.
Determine quem serão os gestores principais com interesses alinhados e capacidades complementares. Defina funções e atividades, elabore um plano de trabalho e estime os custos iniciais.
Estabeleça uma base de trabalho para o seu Banco, onde possa receber os primeiros membros e promover encontros para lançar propostas e diretrizes.
Crie um documento claro e objetivo com orientações sobre o novo Banco de Tempo para compartilhar com a comunidade. Pode ser um guia, vídeo, brochura ou flyer.
Convoque um grupo inicial de pessoas interessadas para um encontro, onde todos possam tirar dúvidas, dar sugestões, ouvir e falar.
Ajude os membros a identificarem seus ativos e necessidades, facilitando as primeiras conexões entre eles, e promovendo a troca de serviços e talentos.
Utilize softwares para registrar os créditos de cada membro, garantindo a equidade nas trocas e mantendo tudo documentado e funcionando corretamente.
Utilize os créditos acumulados no caixa para "pagar" o tempo de quem se dedicar a projetos sociais, palestras e eventos, procurando parcerias que possam se beneficiar dos talentos dos membros do seu Banco.
Organize encontros periódicos, mantenha as comunicações ativas, inscreva novos membros, debata ideias novas e administre o fluxo de manutenção. Celebre cada conquista compartilhando histórias de sucesso.