Cinco passos viáveis para se tornar um consumidor coerente.
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Tempo de leitura 4 min
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Alerta de spoiler: comece consumindo menos
Na segunda década dos anos 2000, até crianças do ensino primário têm mais consciência ambiental do que muitos adultos nascidos no fim do século passado.
Sabendo que estamos no limite dos recursos e da possibilidade de reparo dos estragos empreendidos em larga escala nos últimos 100 anos, também já estamos mais ou menos familiarizados com a ideia de que nossas escolhas individuais contribuem significativamente para a destruição ou a solução dos problemas mundiais.
Então vamos para o próximo ponto: o que você pode fazer de fato para diminuir ou mesmo reverter o impacto negativo que a sua simples presença na Terra promove?
Quando a tradicional marca de roupas e artigos esportivos Patagonia publicou uma antipropaganda nos principais veículos norte-americanos recomendando que não se comprasse nada deles na Black Friday, ela estava mais uma vez fazendo um gesto importante.
Conhecido por ser um ativista antes de ser um empresário, o fundador da marca, Yvon Chouinard, é profundamente envolvido em causas ambientais, sempre puxou o bonde do não-consumismo e usa a própria empresa para difundir esta mensagem. Os anúncios, de 2016, causaram impacto e questionaram a postura de marcas e consumidores, demonstrando na prática como é importante que os dois lados assumam uma postura responsável diante do consumo.
A parte que nos cabe? Não comprar.
Ok, é praticamente impossível viver em grandes centros urbanos e ser 100% carbon free. Mas é possível propor um questionamento sério a cada ímpeto de compra: o que eu preciso ter? Quantos? Para que finalidades? Quanto tempo dura? Posso pedir emprestado a alguém, reciclar algo que já tenho, compartilhar com meus vizinhos?
Na maior parte das vezes chegamos à conclusão de que vivemos muito bem sem 80% do que temos em casa. Faça deste exercício uma prática diária, como uma meditação. Você vai acabar valorizando mais as coisas que realmente tornam seu dia a dia melhor e enxergar com clareza os excessos que anda cometendo.
Faça uma lista do que você costuma consumir com mais frequência – aqueles itens do supermercado que não podem faltar, por exemplo. Também vale olhar o seu extrato bancário e verificar os setores em que você mais investe dinheiro.
Com a lista pronta, pesquise sobre as marcas que costuma escolher e pense nelas sob o ponto de vista da origem dos produtos, seja pela matéria-prima, pelo impacto na natureza ou pelo empreendedor ou empresa que está vendendo. Transparência costuma ser o primeiro forte indício de comprometimento da marca com padrões responsáveis em toda a sua cadeia de produção (que tem você como parte integrante).
Existem certificados que garantem estes posicionamentos. O mais abrangente deles é o selo de Empresa B, concedido a empresas verificadas e aprovadas pela organização internacional e sem fins lucrativos B Lab. Para receber o certificado é preciso passar por uma extensa avaliação de todos os aspectos da produção, da matéria-prima às políticas internas de trabalho, do gasto de energia ao descarte. Existe um link para buscar as empresas B da sua cidade e país. A partir dele é possível verificar quantas das marcas que você costuma consumir se enquadram no padrão B, para começar.
Na sua próxima compra, priorize marcas que se comprometem em gerar o mínimo impacto possível ou, ainda melhor, que são capazes de neutralizar esse impacto por meio de ações que devolvem às comunidades e ao meio ambiente parte do que usam para produzir. Assim colaboramos, como consumidores, para uma cadeia ética e de impacto positivo.
Com sua lição de casa feita, olhe nos seus armários os tipos de produtos que você tem agora em casa. Como são as embalagens e os materiais de que são feitos? Tecidos sintéticos, tintas e plásticos têm uma pegada ambiental bem pesada. Leia os rótulos dos produtos de limpeza, beleza e dos alimentos industrializados (aliás, é uma boa oportunidade de excluir comida sintética da sua cozinha).
Metais pesados, pesticidas, corantes, estabilizantes e compostos perfluorados são alguns dos venenos presentes em muitos objetos que usamos e alimentos que consumimos, com impacto pesado não apenas para o meio ambiente como para a nossa saúde. Calcule os custos de externalidade negativos (custos sociais, ambientais, sanitários e culturais que outras pessoas vão pagar cada vez que você compra o produto errado) e aproveite também para estimar a sua pegada de carbono: quanto seu modo de vida gera de emissão de carbono para o mundo?
A energia utilizada para atividades diárias, o uso de automóveis, a quantidade de alimentos, a produção de lixo: tudo isso tem um custo para o ambiente ao seu redor.
Depois de estudar o ABC do consumo consciente, olhe em volta e pratique o desapego abrindo espaço físico e mental para você. Acumulamos coisas e ideias desnecessárias, descartáveis, que ocupam espaço morto em casa e na mente.
Viver no modo minimalista tem um imenso valor ético e ambiental mas também nos ajuda a enxergar as coisas com mais clareza e a tomar decisões mais acertadas, agregando prazer às nossas atitudes mais simples e coerência às escolhas do cotidiano.
Sabe a célebre frase "menos é mais"? Então. Menos peças no armário, mais elegância. Menos objetos de decoração, mais espaço para dançar na sala. Menos cortinas e mais horizontes. Menos trajetos de carro e mais passeios a pé. Menos pacotes e mais frutas e verduras. Menos ruído mental e mais criatividade e foco. Minimize para expandir.